A solidão interior é um tema que raramente ganha voz, especialmente entre adultos superdotados. Envolta em vergonha e medo, essa solidão não é uma escolha, mas uma resposta inevitável a um mundo que parece desconectado da essência de quem somos.
Falando pela minha experiência, passei a maior parte da vida tentando me enquadrar, fazer parte, ser aceito. Mas como se encaixar em um sistema que opera com valores, moral e objetivos tão distantes daquilo que vibra dentro de uma mente superdotada? Para nós, questões como ética, justiça, sentimentos e propósitos não são acessórios; são a própria base da nossa existência. E, no entanto, vivemos em uma sociedade que não nasceu para pensar coletivamente, compartilhar ou prosperar na cooperação.
Desde cedo, somos ensinados a aceitar a teoria darwiniana como verdade absoluta: a sobrevivência do mais forte como motor da evolução. Mas será que isso é realmente evolução? Na minha visão, toda vez que a força bruta e o egoísmo dominam, a natureza responde com caos. O desequilíbrio se torna insustentável, e a história nos mostra repetidamente que sistemas baseados na exploração e na competição têm finais destrutivos.
Para aqueles de nós que são neurodivergentes, com altas habilidades e superdotação (AHSD), esse confronto com a realidade pode ser devastador. Chega um ponto em que a interação com nossa própria espécie parece perder o sentido. Eu mesmo só descobri minha neurodivergência aos 50 anos, num momento em que, para ser franco, a ideia de morrer parecia mais atrativa do que continuar vivendo em um mundo que não fazia sentido.
Foi apenas ao compreender como minha mente funcionava que comecei a trilhar o caminho da aceitação. Aceitei minha responsabilidade de viver de forma autêntica, mesmo que isso significasse rejeitar padrões, dogmas e expectativas sociais. Essa jornada não foi linear. Passei por fases de negação, luto, aceitação, autoconhecimento e, finalmente, amadurecimento.
No centro dessa jornada, descobri uma verdade essencial: o amor é a força maior que sustenta o universo. Pode soar simples, até óbvio, mas é exatamente essa simplicidade que tantas vezes passa despercebida. Ao longo das eras, avatares e mestres espirituais compartilharam essa mesma mensagem, mas nossa obsessão pelo controle e pelo ego nos cega para o que realmente importa.
"Ame a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo."Para mim, essa não é apenas uma frase bonita; é o fundamento sobre o qual a vida deveria ser construída.
Com isso em mente, a solidão deixa de ser um peso e se torna um convite para a aceitação e o crescimento. A verdadeira solidão não vem da falta de pessoas ao nosso redor, mas da desconexão com nosso propósito e com o amor que nos liga ao Todo. Quando respeitamos as interações, tanto internas quanto externas, entramos em sincronia com o campo quântico de possibilidades infinitas – um espaço onde o amor não é um sentimento, mas uma frequência, uma escolha consciente de ser e viver.
Nesse estado de alinhamento, percebemos que não estamos sozinhos, mesmo nos momentos de maior isolamento. A escolha de viver em harmonia com o amor transforma a solidão em solitude: um estado de plenitude e conexão com algo maior.
Porém, essa jornada exige coragem. Não é fácil viver em um mundo dominado por uma cultura darwinista e manipulativa, que valoriza o ego e a força acima de tudo. Mas é possível. Quando vivemos de forma autêntica, atraímos naturalmente aqueles que vibram na mesma frequência. É aqui que a verdadeira “seleção natural” acontece – não por competição, mas por sintonia.
Relacionamentos baseados no ego, na manipulação ou na necessidade de validação externa perdem o sentido. O amor verdadeiro é livre, harmônico e leal. Ele transcende a paixão, que, por sua natureza, é instável e limitada. Para que um relacionamento seja pleno, é preciso que ambas as partes escolham conscientemente vibrar no amor, respeitando suas singularidades e somando valores ao invés de impor demandas.
Se não vivermos primeiro aquilo que buscamos, nossa jornada será instável, sem base e sem sustentação.
Então, aqui está o desafio: o que você escolhe? Continuar preso aos jogos egocêntricos e infrutíferos que nos ensinam desde cedo, ou abraçar o amor como fundamento da sua existência?
O sol brilha a cada manhã, oferecendo uma nova chance de alinhar suas escolhas com o que realmente importa. Viver, no fim das contas, não é sobre se conformar ou se adaptar, mas sobre criar sentido, reconhecer quem somos e amar profundamente – a nós mesmos, aos outros e à vida em sua totalidade.
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